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DURANTE A HORA 00:00

Rodolfo Borbel Pitarello

Curadoria: Melina Martinho

 

 

“A beleza é o reflexo da verdade”

Alexandro Jodorowsky

 

 

Criar é construir sentido foi o que o artista Rodolfo Borbel Pitarello respondeu sobre o motivo que o incita a pintar. Nascido em Santo André em 1985, formou-se em artes visuais em 2008, onde surgiu o desejo de pintar, ainda que sem um caminho que lhe apontasse consistência; sentia como se as imagens criadas na época nascessem desgastadas, usadas pelo imaginário comum. A experiência com outras linguagens, como vídeo, fotografia e instalações, nunca solapou completamente a vontade de pintar. Em 2013 retomou os estudos pictóricos, dessa vez junto a uma pesquisa intensa em pintura russa e suprematista que lhe forneceu o ponto estrutural para elaboração consciente dos sentidos que gostaria de construir: “Fiquei encantado como essas imagens colavam na mente de uma maneira que elas tocam uma resolução psicológica intensa. Fiquei simplesmente focado em tentar descobrir e estudar imagens que saíssem na banalidade e chegassem a uma essência do entendimento humano e psicológico”. Em 2014 o artista viajou pela América do Sul, entrando em contato com culturas ancestrais, pré-colombianas, que influenciaram seu trabalho. Desde então, sua produção se estende pelos caminhos da pesquisa, consciência e inconsciente que se misturam e constroem um inventário de formas sedutoras e enigmáticas.

 

De maneira análoga, Rodolfo Borbel Pitarello desenvolve suas pinturas. Seu leque de cores alquímicas constrói o fundo - seja com o vermelho, dourado, branco, preto ou, recentemente, com o azul -, assim como esboços desenhados em um caderninho traçam apenas o essencial para iniciar uma obra; a partir daí, a composição se constrói similar a um diálogo entre criador e criatura. Paralelamente, o artista mantém consigo um acervo crescente e plural de imagens de referência, onde convivem desde iluminuras medievais e imagens pré-colombianas a pinturas russas, das ortodoxas às suprematistas. A música pertence e agrega a esse cenário compositivo, e assim surgem imagens metafísicas e sensíveis que parecem habitar um tempo sem hora, criando um espaço em suspensão. As pinturas nos convidam a vagar por formas e cores que parecem sussurrar segredos prestes a se revelarem, em correspondência interna e externa, mas que não se configuram em fórmulas ou textos.

 

Durante a hora 00:00 fala acerca desse tempo em suspensão, do instante que marca o limiar entre dois dias, o fim e o início que se encontram no mesmo ponto. Assim como seu processo criativo, esta exposição foi organizada por meio de um modo empírico e empático com as obras e o espaço. Durante dois dias, estas e outras pinturas conviveram de maneira caótica e sem organização prévia, e foram se configurando à medida que se combinavam e recombinavam no espaço - podemos dizer que, de certa forma, elas participaram ativamente das escolha desta configuração. O planejamento esteve esboçado na escolha prévia de paredes e cores, como também nas possibilidades trazidas pelas obras. Produzidas entre 2016 e 2018, as pinturas não se organizam de maneira hierárquica, convivem aqui por meio de relações sutis que não respeitam linearidade, tamanhos e alturas, e convidam o público a percorrer sua geometria, cores, paisagens e degradês de forma livre e espontânea.

 

Textos avulsos

 

Uma geometria arquetípica ou Balé das formas

É de se notar o cuidado e meticulosidade com os quais Rodolfo Borbel Pitarello constrói triângulos, círculos, semicírculos e quadrados que parecem flutuar firmemente sobre um fundo cósmico. Essa geometria por vezes eleva o olhar, para depois baixá-lo; outras vezes nos parece indicar certa profundidade, nos trazendo para dentro da superfície plana; entre outros efeitos causados pela gradação de cores e linhas precisas. Tais combinações trazem movimento às formas estáticas, que parecem dançar sob nosso olhar, nos causando impressões como ascensão, profundidade, expansão, tensão e outros conceitos gerais que, unidos, constroem um inventário visual de arquétipos.

A via húmida e suas cores aquosas

Diferentemente das linhas e formas cuidadosamente organizadas em boa parte das obras, as cores apresentam fluidez ao olhar, ora por diluição, ora por aglutinação, e por vezes em suaves degradês. É como se elas nos lembrassem que é úmida a sua essência quando combinam e recombinam cores sobre os fundos pretos, brancos, dourados, vermelhos e azuis, onde se configuram enquanto se desmancham sob nosso olhar.

Certas paisagens internas

É preciso apenas uma linha horizontal para traçar um horizonte imaginário. Essas linhas se desdobram em picos e planícies ao ganharem contornos sinuosos e profundidade, quando prenhes de cores que a preenchem. Tem-se, assim, um amontoado de cores e linhas que parecem configurar inóspitas paisagens internas onde o olho vagueia, perto e longe, suas cadeias montanhosas. Há, nessas composições, certa atmosfera mística, característica das pinturas de Rodolfo Borbel Pitarello.

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Imagens da exposição Durante a hora 00:00

Crédito: Renan Teles

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